As doenças reumáticas atingem cerca de 15 milhões de brasileiros e geram impactos sociais significativos, como limitações funcionais, aposentadorias precoces e sobrecarga do sistema de saúde do país.
Entre setembro de 2019 a agosto de 2020, mais de 100 pessoas por dia foram internadas em hospitais ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) com sinais e sintomas compatíveis com alguma enfermidade reumática, conforme revela o Datasus1.
Entre as doenças reumáticas mais comuns nos adultos, estão as espondiloartrites. Este grupo de doenças, quando não tratado de forma adequada, também é capaz de comprometer a vida pessoal e profissional do paciente.
A espondilite anquilosante, protótipo deste grupo, é mais comum entre homens brancos de 20 a 40 anos. O diagnóstico dessas doenças pode ser um tanto desafiador devido a ausência de exames específicos, sendo necessária uma avaliação clínica criteriosa.
Continue a leitura para compreender o que é, quais as causas, e o tratamento das espondiloartrites.
O que são as espondiloartrites?
As espondiloartrites (EpA) são um grupo de doenças distintas, mas que compartilham características clínicas e fisiopatológicas.
Em todas elas os locais de junções dos ossos com os tendões (enteses), são as principais estruturas acometidas. Além disso, elas guardam relação com o gene HLA-B27 e afetam de forma significativa o esqueleto axial. As articulações e enteses periféricas, o olho, a pele e o intestino são outros órgãos possivelmente acometidos.
Há evidências de que a fisiopatologia das espondiloartrites está relacionada com a interação entre o sistema imunológico e bactérias do trato gastrointestinal, geniturinário e pele. Estudos recentes apontam que, em algumas pessoas com essa condição, especialmente na espondilite anquilosante, pode acontecer uma desordem do microbioma intestinal, um fenômeno chamado “disbiose”.
Essas alterações influenciam na ativação dos linfócitos, as células de defesa locais. Os linfócitos migram para articulações periféricas e medula óssea, o que leva a uma resposta inflamatória sistêmica (eixo intestino-articulação).
Além disso, o esforço repetido nos locais de conexão entre tendões e ligamentos aos ossos (entese) pode causar pequenos machucados, atraindo ainda mais células de defesa para este local e perpetuando o processo inflamatório.
Quais doenças pertencem ao grupo de espondiloartrites?
- Espondilite anquilosante (EA)
- Artrite psoriásica (APs)
- Artropatias enteropáticas (AE)
- Artrite reativa (ARe)
- Espondiloartrites indiferenciadas (EI)
- Espondiloartrites juvenis (EJ)
Como identificar as espondiloartrites?
As espondiloartrites possuem diversas formas de sintomas articulares, podendo envolver o esqueleto axial e periférico. As manifestações extra articulares (MEAs) também são frequentes e podem surgir antes, durante ou depois do quadro articular.
Confira quais são as manifestações articulares do esqueleto axial
- Dor nas costas com início insidioso e que se mantém por mais de três meses. Durante a noite e em repouso, há piora da dor.
- Geralmente, atinge a região lombar, mas pode acometer qualquer segmento da coluna vertebral.
- Há também rigidez matinal, que é prolongada. Os sintomas melhoram quando o paciente se movimenta.
Sacroileíte:
- Alternância de dores nas nádegas ou glúteos, podendo se estender para a parte de trás da coxa, indo até a parte de trás do joelho. Isso geralmente acontece dos dois lados e pode piorar quando o paciente descansa.
Confira quais são as manifestações articulares do esqueleto periférico
Entesite:
Inflamação que acontece onde os tecidos do corpo se conectam aos ossos, especialmente em áreas com fibrocartilagem. Isso inclui partes como a sola do pé, o tendão de Aquiles, o tendão acima do joelho, ossos do quadril, costas e pescoço. Apresenta-se com dor intensa localizada e às vezes com sinais de inflamação como edema e vermelhidão.
Artrite:
Inflamação articular que é mais comum nos membros inferiores como, joelhos, tornozelos e pés.
Dactilite:
Tipo de inflamação da entese que compromete os tendões flexores dos dedos das mãos e dos pés.
Além das manifestações articulares, há também as manifestações extra articulares que podem envolver os olhos, o intestino, a pele e o aparelho geniturinário na forma de psoríase, uveíte, doença inflamatória intersticial e nefrolitíase.
De que forma os exercícios físicos contribuem para o tratamento?
É comprovado que a atividade física é segura e altamente recomendada para os pacientes com espondiloartrites, juntamente com o tratamento medicamentoso.
Promovem a redução das inflamações com a diminuição das substâncias inflamatórias que a doença produz.
Além disso, no longo prazo, podem atuar na manutenção da mobilidade da coluna e na prevenção de deformidades nas articulações.
Os exercícios também agem na redução da dor, da rigidez matinal e da fadiga, melhorando a flexibilidade, o condicionamento físico, a postura e o bem-estar do paciente.
O impacto dessa condição
Como vimos, as manifestações das espondiloartrites causam inflamações crônicas que podem evoluir com a perda de funções do aparelho locomotor, o que influencia diretamente nas atividades cotidianas, no humor e no sono. Como consequência, o desencadeamento de depressão, ansiedade e estresse, são quadros que agravam a redução de qualidade de vida do paciente.
Além disso, quando não tratadas de forma adequada e precoce, essas doenças também podem gerar impactos sociais relevantes, como a aposentadoria precoce e a sobrecarga dos serviços de saúde.
Sendo assim, é importante ter um bom acompanhamento médico, para que se possa fazer o diagnóstico correto de forma precoce, o que permite controlar a atividade inflamatória e evitar os possíveis danos da doença.
Para os pacientes com diagnóstico de espondiloartrites é importante manter atividades físicas regulares e seguir as prescrições médicas para manter a qualidade de vida.