Osteoporose induzida por glicocorticoide: uma condição que deve ser lembrada

A osteoporose induzida por glicocorticoides (OPIG) é uma forma específica de osteoporose que resulta do uso prolongado de glicocorticóides, medicamentos frequentemente prescritos para tratar uma variedade de condições reumatológicas, como lúpus, artrite reumatoide e vasculites sistêmicas. 

Esses medicamentos, apesar de necessários em muitos contextos clínicos, com eficácia comprovada para controlar a inflamação, têm um evento adverso significativo e frequente: a perda da densidade óssea e consequente aumento do risco de fraturas.

Continue a leitura para entender melhor sobre essa condição, seus mecanismos, diagnóstico e estratégias de tratamento.

O que é Osteoporose Induzida por Glicocorticoides?

A osteoporose é uma condição caracterizada pela diminuição da densidade óssea e deterioração da microarquitetura do osso, levando a uma maior fragilidade e risco de fraturas. 

Quando essa condição é desencadeada pelo uso crônico (> 3 meses) de glicocorticóides, é chamada de osteoporose induzida por glicocorticoides.

A perda de massa óssea é mais pronunciada nos primeiros meses de uso, apesar de ser constante com o uso contínuo. Fraturas foram relatadas em até 30-50%, e a incidência é maior com idade avançada, maior dose a maior duração do tratamento. O principal local de fratura são as vértebras. 

Mecanismos de Ação dos Glicocorticóides e Seus Efeitos no Osso

Os glicocorticóides afetam a saúde óssea por vários mecanismos:

  1. Inibição da Formação Óssea: principalmente pela inibição direta da proliferação e diferenciação ds osteoblastos, células responsáveis pela formação de osso novo. Há também maior taxa de apoptose (morte programada) de osteoblastos maduros.  
  2. Aumento da Reabsorção Óssea: Estes medicamentos estimulam a proliferação dos osteoclastos, células que reabsorvem o osso antigo. 
  3. Alteração do metabolismo do cálcio: Os glicocorticóides reduzem a absorção de cálcio no intestino e aumentam a excreção de cálcio pelos rins. Ambas situações resultam em aumento do hormônio PTH, responsável por aumentar a reabsorção óssea. 
  4. Efeitos Hormonais: O uso prolongado de glicocorticóides pode suprimir a produção de hormônios sexuais, como estrogênio e androgênios, que são importantes para a manutenção da densidade óssea.

Avaliação de pacientes em uso de glicocorticoide

Todo paciente em uso de glicocorticoide deve ser avaliado para osteoporose, dentro de 3 a 6 meses do início do medicamento. Os objetivos da avaliação são: identificar pacientes com alto risco de fratura que se beneficiariam de tratamento e fazer o diagnóstico precoce da OPIG.

Pode fazer parte da avaliação:

  1. Identificação de fatores de risco de fraturas: investigar fraturas prévias, quedas, causas secundárias de osteoporose, entre outros.
  2. Estimativa do risco de fraturas através do FRAX, uma calculadora que nos fornece um valor que corresponde ao risco de fraturas nos próximos 10 anos.
  3. Densitometria óssea: confirma a perda de massa óssea e nos ajuda a estimar o risco de fratura
  4. Imagem da coluna vertebral com radiografia simples, para rastrear fraturas vertebrais.

Prevenção e tratamento da Osteoporose Induzida por Glicocorticoides

Como prevenção, deve-se garantir uma boa ingesta/suplementação de cálcio e vitamina D naqueles pacientes que fazem uso crônico de glicocorticoide. A dose e a escolha dos suplementos (se necessários) são individuais e depende de vários fatores. 

Após estimativa do risco de fratura, alguns pacientes, mesmo sem o diagnóstico de estabelecido de OPIG, recebem tratamento direcionado para osteoporose, com medicamentos antireabsortivos ou anabólicos. As decisões levam em conta a idade, a presença ou ausência de menopausa, entre outros fatores. 

Com o diagnóstico estabelecido, seja através da densitometria óssea ou da comprovação de fraturas de fragilidade, o tratamento deve ser instituído o mais rápido possível. 

Assim que possível, a dose do corticoide deve ser reduzida, e se possível, a medicação suspensa, sempre sob supervisão médica. 

Além do tratamento medicamentoso, outras estratégias de prevenção de fraturas, como prática de exercícios físicos, interrupção do tabagismo, moderação no consumo de álcool e ajustes na rotina para reduzir o risco de queda são essenciais. 

O monitoramento deve ser contínuo, com reavaliação periódica do risco de fratura, rastreio de novas fraturas e repetição da densitometria óssea. 

O tratamento deve durar enquanto o paciente estiver em uso de glicocorticoide. Após a suspensão, o risco de fratura é reavaliado e pode ser necessário continuidade do tratamento ou tratamento sequencial. 

A osteoporose induzida por glicocorticóides é uma condição séria, que pode aumentar a morbimortalidade em decorrência das fraturas. 

A identificação precoce e a intervenção adequada são essenciais para minimizar o impacto da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. Os pacientes em tratamento com glicocorticóides devem estar cientes dos riscos associados e colaborar com seus profissionais de saúde para implementar estratégias de prevenção e tratamento eficazes. 

Com um manejo apropriado, é possível controlar a perda óssea e reduzir o risco de fraturas, mantendo a saúde óssea e o bem-estar geral.

Se você ou alguém que você conhece está em uso de glicocorticóides, consulte um profissional de saúde para discutir estratégias para prevenir a osteoporose e proteger a saúde dos ossos.

 

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