“O termo reumatismo engloba 107 doenças osteo- articulares e musculoesqueléticas, dentre estas a fibromialgia, a osteoartrite ou popular artrose e as artrites, que podem ser qualquer dor nas juntas. ” Trecho da entrevista do Dr. Ênio Ribeiro Reis; presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia. Acompanhe a entrevista completa abaixo.
1 – Seu nome, formação e cargo .
Enio Ribeiro Reis
Formado em Medicina Fac. Medicina Univ. Federal R.J. em 1983.
Diretor Médico do Centro de imunoinfusões do Hospital Humanitas de Varginha MG
Membro do Comitê de infecções da Sociedade Brasileira Reumatologia
Presidente da Sociedade Mineira Reumatologia Biênio 2017-2018
2 – Podemos falar que reumatismo, artrite, artrose e fibromialgia são todas doenças reumáticas?
Sim, O termo reumatismo engloba 107 doenças osteo- articulares e musculoesqueléticas, dentre estas a fibromialgia, a osteoartrite ou popular artrose e as artrites, que podem ser qualquer dor nas juntas. Por exemplo: artrite reumatoide, artrite psoriásica, artrite da gota, etc.
3 – As causas dessas doenças são as mesmas? Existem fatores de risco ou desencadeantes?
Não, a maioria destas doenças existe uma predisposição genética, isto é uma tendência familiar e hereditária, mas não são todas as doenças. Algumas são excessos alimentares, outras podem ser desencadeadas por infecções ou choque emocional que servem de gatilho a deflagrar uma doença autoimune.
4 – Quais são os sintomas? O que os diferencia: tipo, intensidade e localização da dor? São doenças progressivas?
Todas tem como caracterÃstica em comum as dores nas articulações e ou musculares. De acordo com o tipo de doença e tratamento utilizado podem ser progressivas ou não. Cada doença possue uma caracterÃstica própria de local acometido, do padrão de dor, se mais de dia ou mais a noite. Somente um reumatologista bem treinado, será capaz de distinguir estes padrões em mais de cem tipos de doenças.
5 – Como é feito o diagnóstico? É apenas clÃnico, ou já exames de imagem, de sangue…
Existe exames especÃficos de sangue de acordo com cada caso. Reumatograma é uma serie de exames solicitados pelo clinico, mas sem um raciocÃnio logico especifico. O exame clinico do especialista é que irá dar pistas para detectar sinais e pedir os exames especÃficos, de acordo com o que encontrou no exame fÃsico. Os exames de imagem são excelentes, pois confirmam e complementam as suspeitas das queixas. Podem ser radiografias, ultrassonografias, tomografias, ressonâncias e até mesmo o Pet-Scan.
6 – Quais os tratamentos disponÃveis? Medicação, fisioterapia
Hoje temos um arsenal de medicações clássicas como os anti-inflamatórios, corticoides, e as drogas sintéticas modificadoras do curso da doença. A maioria destas são drogas imunomoduladoras. Temos também as Vitaminas de cálcio e vitamina D. Porem nos últimos 15 anos foi descoberta uma nossa classe de drogas que revolucionou a reumatologia. São as drogas imunobiológicas, que agem em alvos especÃficos de nosso sistema imune bloqueando alguma parte especifica responsável pela inflamação continuada. A fisioterapia tem um papel auxiliar importante na preservação da amplitude articular e da força muscular. Existe também ação analgésica em alguns aparelhos e tratamentos fisioterápicos.
7 – Existe prevenção para essas doenças? E prevenção para evitar as dores?
Sim, apesar de existir uma predisposição genética na maioria destas doenças, uma boa prevenção seria uma rotina de exercÃcios, de no mÃnimo três vezes por semana, controlar o peso, evitar o stress com a ioga e meditações, alimentar-se adequadamente com uma boa qualidade alimentar, rica em ômega- 3 e vitamina D. Alimentos como peixes, sardinha, salmão, laticÃnios e cogumelos, ajudam muito nesta dieta.
Para as dores, a atividade regular de exercÃcios fortalece a parte osteoarticular e ajuda a prevenir alguns casos leves de artrose.
8 – Quais as estatÃsticas/prevalência dessas doenças?
As doenças reumáticas são muito variáveis a prevalência modifica de acordo com o sexo. A Gota e as Espondiloartrites acometem mais o sexo masculino. Por outro lado a Artrite Reumatoide, o Lúpus, Fibromialgia e a Osteoporose acometem mais o sexo feminino.
Em torno de 6% da população brasileira é acometida por essas patologias, ou seja, 12 milhões de pessoas em nosso paÃs sofrem de algum acometimento osteoarticular.
A prevalência varia de acordo com as regiões. Não existem dados precisos, mas a media mundial, varia em 25% da população já teve algum episódio de lombalgia em alguma fase de sua vida, 15% algum episodio de tendinite, 12% pode ter tido crise de Osteotrose, 10% osteoporose, 4% fibromialgia, 1,5% Espondiloartrite, 1,5 % gota. 1% artrite reumatoide e 0,1% Lúpus.
9 – Quais os principais mitos em torno delas? São mesmo doenças de velho? entortam mesmo articulação?
Muitos mitos envolvem essas doenças
Não é uma doença de velhos, embora prevaleça acima de 40 anos. Pode acometer crianças e adolescentes e adultos jovens.
Outro mito: Piora com o frio
De maneira simplista a percepção dolorosa aumenta com o frio, e o paciente pode sentir mais dor, mas a doença em si não piora. A exceção são as doenças vasculares como o fenômeno de Raynaud do Lúpus e Esclerodermia que estes sim pioram muito com o frio.
Alimentos ácidos aumentam o ácido Úrico:
Outro mito errado: O ácido úrico é um produto metabolito derivado das proteÃnas. Os alimentos ácidos são as frutas, ricas em ácido Ascórbico porém sem proteÃnas. Sendo assim as frutas azedas não aumentam o ácido úrico. Já as carnes, o feijão, a soja e derivados são ricos em proteÃnas e estes aumentam e muito a produção de ácido úrico no organismo já predisposto.
Essa doenças entortam/ Sim principalmente a artrite reumatoide, a artrite psoriásica e alguns tipos raros de lúpus denominado doença de Jacoud.
10 – O que é importante a população saber sobre essas doenças?
Existem tratamentos disponÃveis na rede pública, com drogas especificas para estas doenças. Solicita ao seu medico especialista o preenchimento do relatório, para que possa dar entrada na secretaria de saúde, tanto as drogas mais simples, denominadas sintéticas, quanto as drogas mais complexas, para casos mais severos e avançados.
O tratamento hoje é coparticipativo, entre as decisões de comum acordo entre o médico e o paciente. Tudo visando uma melhor aderência um tratamento que na maioria das vezes é crônico ou pelo menos de longo prazo.